21 março 2006

Mesa dos sonhos

Ao lado do homem vou crescendo
Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente
Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo
E defendo-me da morte povoando de novos sonhos a vida.

Alexandre O'Neill


Impossível deixar passar este dia sem deixar ficar um dos meus poemas preferidos de um dos meus poetas de eleição.
A escolha não foi fácil, Pessoa, José Régio, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Carlos Drummond de Andrade, Florbela Espanca, todos referências que me ensinaram a gostar desta maneira tão especial de exprimir sentimentos e formas de estar. Contudo, este poema do O'Neill foi-me oferecido quando precisei de sonhos para povoar de novo a minha vida, por isso aqui fica neste dia Mundial da Poesia.

16 março 2006

Nunca é demais lembrar...













Porque a meu ver, este tipo de informação é importante, aqui fica o resultado de um conjunto de entrevistas a um grupo de violadores a cumprir pena de prisão e que foram entrevistados para saber o que procuram numa potêncial vítima. Eis alguns factos interessantes:

  1. A primeira coisa que reparam numa potencial vítima é o penteado. É mais provável que ataquem uma mulher com rabo-de-cavalo, trança ou qualquer outro penteado que seja possível puxar mais facilmente. É provável também que ataquem mulheres com cabelos longos. Mulheres com cabelos curtos não são alvos comuns.
  2. A segunda coisa que reparam é a roupa. Vão procurar para mulheres em que a roupa seja fácil de tirar rapidamente. Também procuram mulheres a falar ao telemóvel ou a fazer outras coisas enquanto andam – Isto indica que estão desatentas e desarmadas e podem ser facilmente apanhadas.
  3. A hora do dia em que mais mulheres são violadas e atacadas é no começo da manhã, entre as 5:00h e 8:30 horas.
  4. O lugar preferencial para apanhar mulheres é o lugar onde ficam os estacionamentos de escritórios. Em segundo lugar, estão as casas de banho públicas.
  5. Apenas 2% dos violadores anda armado. Isto porque a pena para uma violação é de 3 a 5 anos de prisão - mas para violação com armas, é de 15 a 20 anos.
  6. Geralmente procuram atacar de forma e em lugares que possam carregar a mulher rapidamente para um outro local, onde não tenham que se preocupar em ser apanhados. Se esboçar qualquer reacção de luta, costumam desistir em aproximadamente dois minutos: acham que não vale a pena, que é perda de tempo.
  7. Disseram que não agarram mulheres que levam guarda-chuvas ou objectos que possam ser usados como arma a uma certa distância (chaves não os intimidam, porque para serem usadas como arma, a vítima tem que deixá-los chegar muito perto).
  8. Se alguém a seguir numa rua ou numa garagem ou se estiver com alguém suspeito num elevador ou numa escadaria, olhe-o no rosto e pergunte alguma coisa, tipo "Que horas são?" Se for um violador, terá medo de ser posteriormente identificado e perderá o interesse em tê-la como vítima. A ideia é convencê-lo de que não vale a pena chegar até si.
  9. Se alguém saltar à sua frente, grite! A maioria dos violadores disse que largaria uma mulher que gritasse ou que não tivesse medo de lutar com ele. Novamente: eles procuram ALVOS FÁCEIS. Se empunhar um spray de pimenta e gritar, poderá mantê-lo à distância e é provável que ele fuja.
  10. Esteja sempre atenta ao que se passa à sua volta. Caso perceba algum comportamento estranho, não o ignore. Siga os seus instintos. Poderá até descobrir que se enganou, ficar meio desnorteada no momento, mas pode ter certeza de que ficaria muito pior se realmente fosse atacada.
  11. Em qualquer situação de perigo, caso queira gritar, grite sempre "FOGO! FOGO!" e muito mais pessoas acudirão (curiosos). Caso o seugrito seja "socorro!" a maioria das pessoas não reage, por medo.

11 março 2006

Há um ano foi assim...

É verdade, também eu decidi deixar de ser espectadora e passar a participante no mundo dos blogs.
E que outro tema podia eu escolher, senão o dos livros, meus companheiros inseparáveis desde que descobri a magia que encerram e as janelas que nos podem abrir.
Com o Livros & Companhia decidi partilhar com vocês, os retalhos que me ficaram dos livros que ao longo dos anos me têm acompanhado.
Comentários, sugestões e mesmo participações são bem-vindos.
Espero que gostem!

08 março 2006

Invocação à mulher única














Tu, pássaro – mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito
Tu, que perpetuas o desespero humano – alma desolada da noite sobre o frio das águas – tu
Tédio escuro, mal da vida – fonte! jamais... jamais... (que o poema receba as minhas lágrimas!...)
Dei-te um mistério: um ídolo, uma catedral, uma prece são menos reais que três partes sangrentas do meu coração em martírio
E hoje meu corpo nu estilhaça os espelhos e o mal está em mim e a minha carne é aguda
E eu trago crucificadas mil mulheres cuja santidade dependeria apenas de um gesto teu sobre o espaço em harmonia.
Pobre eu! sinto-me tão tu mesma, meu belo cisne, minha bela, bela garça, fêmea
Feita de diamantes e cuja postura lembra um templo adormecido numa velha madrugada de lua...A minha ascendência de heróis: assassinos, ladrões, estupradores, onanistas – negações do bem: o Antigo Testamento! – a minha descendência
De poetas: puros, selvagens, líricos, inocentes: O Novo Testamento afirmações do bem: dúvida
(Dúvida mais fácil que a fé, mais transigente que a esperança, mais oporturna que a caridade
Dúvida, madrasta do gênio) – tudo, tudo se esboroa ante a visão do teu ventre púbere, alma do Pai, coração do Filho, carne do Santo Espírito, amém!
Tu, criança! cujo olhar faz crescer os brotos dos sulcos da terra – perpetuação do êxtase
Criatura, mais que nenhuma outra, porque nasceste fecundada pelos astros – mulher! tu que deitas o teu sangue
Quando os lobos uivam e as sereias desacordadas se amontoam pelas praias – mulher!
Mulher que eu amo, criança que amo, ser ignorado, essência perdida num ar de inverno.
Não me deixes morrer!... eu, homem – fruto da terra – eu, homem – fruto da carne
Eu que carrego o peso da tara e me rejubilo, eu que carrego os sinos do sêmen que se rejubilam à carne
Eu que sou um grito perdido no primeiro vazio à procura de um Deus que é o vazio ele mesmo!
Não me deixes partir... – as viagens remontam à vida!... e por que eu partiria se és a vida, se há em ti a viagem muito pura.
A viagem do amor que não volta, a que me faz sonhar do mais fundo da minha poesia
Com uma grande extensão de corpo e alma – uma montanha imensa e desdobrada – por onde eu iria caminhando
Até o âmago e iria e beberia da fonte mais doce e me enlanguesceria e dormiria eternamente como uma múmia egípcia
No invólucro da Natureza que és tu mesma, coberto da tua pele que é a minha própria – oh mulher, espécie adorável da poesia eterna!


Vinicius de Moraes

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