16 janeiro 2006

Lágrimas ocultas



















Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


OBRA POÉTICA
Florbela Espanca

2 Comments:

Blogger marco said...

ah poeta

terça-feira, janeiro 17, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Não sei, António
Seria de certeza melhor compreendida e menos julgada. Contudo penso que a Florbela tinha uma alma de poeta, incapaz de pertencer a algum lugar na busca incessante da sua felicidade.

...É ter cá dentro um astro que flameja...é ter garras e asas de condor.

É uma das minhas poetisas preferidas, que releio sempre que me sinto melancolicamente "pouco feliz".

terça-feira, janeiro 17, 2006  

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