O destino que não escolhi
Dia 14 faço um ano de acidente e só agora realmente vou começar o tratamento de fisioterapia na BBB. Foram dez meses de vértebra em frangalhos, a usar aquele colete de ferro e mais um mês de espera de vaga na BBB.
Um ano em que tive uma certeza: a minha vida mudou imenso. Sou um outro Marcelo, não mais o Paiva, e sim Rodas. Não mais Violinista, e sim deficiente físico. Ganhei algumas cicatrizes pelo corpo, fiquei mais magro e agora uso barba. Não fumo mais Minister, agora passei para Luis XV. O meu futuro é uma quantidade infinita de incertezas. Não sei como vou estar fisicamente, não sei como irei ganhar a vida e não estou com vontade de dar nenhuma lição. Não quero que as pessoas me encarem como um rapaz que apesar de tudo transmite muita força. Não sou modelo para nada. Não sou herói, sou apenas vítima do destino, entre milhões de destinos que não escolhemos. aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu. É foda, mas que fazer...
Muito tempo depois, soube que estivera mais morto do que vivo naquela UTI. A minha mãe conta que, logo após chegar a Campinas, perguntou para o médico o que é que ela poderia fazer, e ele disse:
- Nada, reze apenas.
Hoje em dia, pergunto-me se preferiria estar morto.
Não sei, nem quero saber. Só sei que, nas noites em que tenho insónia, lembrou-me de um rapaz que subiu a uma pedra e gritou:
- Aí Gregor, vou descobrir o tesouro que escondeste aqui em baixo, seu milionário disfarçado.
Pulou com pose de Tio Patinhas, bateu com a cabeça no chão e foi ai que ouviu a melodia: BIIIIN.
FELIZ ANO VELHO
Marcelo Rubens Paiva
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