07 abril 2005

O preço da liberdade

Mas o que é a liberdade?
Passei grande parte da minha vida sendo escravo de alguma coisa, portanto devia entender o significado desta palavra. Desde criança lutei para que ela fosse meu tesouro mais importante. Lutei contra meus pais que queriam que eu fosse engenheiro ao invés de escritor. Lutei contra meus amigos no colégio, que logo no início me escolheram para ser vítima de suas brincadeiras perversas, e só depois de muito sangue escorrido pelo meu nariz e pelos deles, só depois de muitas tardes quando precisava esconder de minha mãe as cicatrizes – porque eu tinha que resolver os meus problemas, e não ela - consegui mostrar que podia levar uma surra e não chorar. Lutei para arranjar um emprego que me sustentasse, fui trabalhar como entregador em uma loja de ferragens, para ficar livre da famosa chantagem familiar, "nós te damos dinheiro, mas você precisa fazer isto e aquilo".

O inspector diz que estou livre. Livre estou agora, e livre estava dentro da cadeia, porque a liberdade ainda continua sendo a coisa que mais prezo neste mundo. Claro que isso me levou a beber vinhos que não gostei, fazer coisas que não devia ter feito e que não tornarei a repetir, ter muitas cicatrizes em meu corpo e em minha alma, ferir algumas pessoas – às quais terminei pedindo perdão, em uma época que compreendi que podia fazer tudo, excepto forçar outra pessoa a seguir-me em minha loucura, minha sede de viver. Não me arrependo dos momentos que sofri, carrego minhas cicatrizes como se fossem medalhas, sei que a liberdade tem um preço alto, tão alto quanto o preço da escravidão; a única diferença é que você paga com prazer, e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas.


O ZAHIR
Paulo Coelho