02 setembro 2005

A vida é água a correr

Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr



Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar


FALA DO HOMEM NASCIDO
António Gedeão

4 Comments:

Blogger Garcia said...

Ai, que prazer que é ler um poema de Gedeão...

domingo, setembro 04, 2005  
Blogger Wilton Chaves said...

Olá!
Vinha sempre em seu blog, achava que você estava em férias. Curto muito os textos que você coloca em exposição, apresentando um panorama da literatura, entendo ser, uma bela contribuição que você faz.Abraços!

domingo, setembro 04, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Olá João,
A didas dizia à uns dias atrás que há letras que só se conseguem ler com música, este poema para mim é um desses casos.
Obrigado pela visita e parabéns pelo seu blog.

segunda-feira, setembro 05, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Querido Wilton,
Pois é verdade, estive de férias e foram férias mesmo, até do blog.
Obrigado pelas visitas!

segunda-feira, setembro 05, 2005  

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