Um imenso desperdiçar de gente
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino...
RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA
Sophia de Mello Breyner Andresen
1 Comments:
Viva António,
Pois também para mim a Sophia é "dona" de alguns dos poemas mais bonitos que conheço.
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