06 outubro 2005

A Superstição é imortal

Quando eu era bem menino
Tinha fadas no jardim
No porão um monstro albino
E uma bruxa bem ruim.

Cada lâmpada tinha um génio
Que virava ano em milénio
E, coisa bem mais perversa,
Sapo em rei e vice-versa.

Tinha Ciclope,Centauro,
Autósito, Hidra e megera,
Fênix, Grifo, Minotauro,
Magia, pasmo e quimera.



Mas aí surgiram no horizonte
Além de Custer e seus confederados
A tecnologia mastodonte
Com tecnologistas bem safados
Esses homens da ciência me provaram
Que duendes, bruxas e omacéfalos
Eram produtos imbecis de meu encéfalo.
Nunca existiram e nunca existirão:
uma decepção!

Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.


POEMAS
Millôr Fernandes

3 Comments:

Blogger Isabel said...

Olá António e obrigado pelas visitas.
Já percebi que também és fã do Millor, tenho mais textos dele publicar em breve.

quinta-feira, outubro 06, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Grande texto! Continuas a fazer um óptimo trabalho de divulgação (mas quem divulga também divulga um pouco de si, não é?)...
Numb (www.tapornumporco.blogspot.com)

sábado, outubro 08, 2005  
Blogger Isabel said...

Pois é Numb,
É bem verdade que as preferências que por aqui tenho deixado refletem quase sempre a minha forma de "olhar" o mundo. Uns dias mais coloridos em oposição a outros mais cinzentos, sempre questionando escolhas e caminhos que por vezes me são impostos.

segunda-feira, outubro 10, 2005  

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