19 setembro 2005

Só se vê bem com o coração

- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
O principezinho lá foi ver as rosas outra vez.
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo.
E as rosas ficaram bastante incomodadas.
- Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sozinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu vi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, para se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, para se lembrar.



O PRINCIPEZINHO
Antoine de Saint-Exupéry

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Principezinho é uma obra genial. E chamar-lhe infantil é ler aquilo sem ver nada do que lá está. Do mais profundo e adulto que pode haver. E até o Sócrates precisava de ler aquilo e perceber de uma vez por todas que só se podem fazer leis que sejam aceites pelo Povo e queridas por ele. Leis ididota e inexequíveis vão parar ao caixote do lixo da história. O Rei do Princípezinho percebeu-o e não me parece difícil, mas enfim...

terça-feira, setembro 20, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Obrigado por teres linkado o Tapor. Vai passando que há muitos livros e escritores por lá. Já fizemos posts sobre os seguintes escritores: yasunari kawabata, umberto eco, amin maalouf, herman hesse, franz kafka, dan brown, pedro rosa mendes, camilo josé cela, etc.

terça-feira, setembro 20, 2005  
Anonymous Anónimo said...

O principezinho foi o primeiro livro "importante" que recebi como prenda, assim que aprendi a ler.
As palavras sábias que encerra são para mim intemporais e por isso volto a relê-lo sempre que preciso de "olhar" o mundo com a magia do sorriso de uma criança.

quarta-feira, setembro 21, 2005  

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