03 outubro 2005

Há que penar para aprender a viver

Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda


Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
p’ra receber daquilo que aumenta o coração


Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo.....




RESTOLHO
Mafalda Veiga
In: "Pássaros do Sul", 1987

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Regra geral gosto da música com que a Mafalda Veiga pinta as palavras que canta.
Hoje acordei com esta que já não ouvia algum tempo mas de que gosto particularmente :)

segunda-feira, outubro 03, 2005  

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