Na vastidão do mundo
Voltou a fechar os olhos. Os odores do jardim invadiram-no, nítidos e bem desenhados, semelhantes às faixas coloridas de um arco-íris.
E o odor exacto, aquele que o arrebatava, estava bem próximo. Grenouille ardia de volúpia e sentia-se gelado de terror. O sangue subiu-lhe ao rosto como se fosse um miúdo endiabrado apanhado em falta, após o que lhe desceu até meio do corpo e voltou a subir, desceu mais uma vez e ele nada podia fazer. O ataque deste perfume fora demasiado brusco. O espaço de um instante, de um suspiro que lhe pareceu uma eternidade. Teve a sensação de que o tempo se desdobrava ou desaparecia radicalmente, pois deixou de saber se agora era agora, se aqui era aqui, ou se pelo contrário o aqui e o agora era outrora noutro lugar.
Na realidade, o perfume que pairava no ar, proveniente deste jardim, era o perfume da jovem ruiva que ele assassinara nessa altura.
O facto de ter reencontrado este perfume na vastidão do mundo, levou-o a derramar lágrimas de felicidade… e que tal pudesse ser imaginário enchia-o de um terror mortal.
O PERFUME
Patrick Süskind
1985
2 Comments:
Olá!
Izabel, sempre que posso, faço uma visita em seu blog. Acho muito interessante, informativo e inteligente. Uma verdadeira companhia para quem aprecia livros.O livro que você cita, tb, foi editado no Brasil, país , em que eu moro. Não li, mas pretendo ler. Um grande abraço, voltarei mais vezes.Tchau!
Fico contente por saber que o meu blog já recebe visitas vindas do outro lado do oceano e agradeço as palavras simpaticas que deixou ficar.
Um abraço
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