17 março 2005

Desde o começo do mundo

A noite estava agradável. Na luz pura do luar esfumava-se a paisagem, perdiam-se os perfis dos montes e dos grandes eucaliptos envoltos na sombra...

Deitaram-se a um canto, sobre a erva agreste, fitando o céu estrelado em cuja abóboda infinita, brilhava uma lua de leite.

Irene deixou cair a cabeça sobre o ombro de Francisco e chorou toda a sua angústia. Ele rodeou-a com um braço e assim ficaram muito tempo, talvez horas, buscando na quietude e no silêncio algum alívio depois do que tinham descoberto e forças para o que teriam de suportar.

A pouco e pouco foi-se afrouxando o nó que oprimia o espírito de Francisco. Percebeu a beleza do céu, a suavidade da terra, o cheiro intenso do campo, o contacto de Irene contra o seu corpo…

Lembrou-se do dia em que a tinha conhecido, quando o seu sorriso o deslumbrou. Amava-a desde então…

O ar prendeu-se-lhe no peito e o seu coração lançou-se num frenético golpe. Irene era sua porque assim estava escrito desde o começo do mundo.

DE AMOR E DE SOMBRA
Isabel Allende
1984