08 junho 2005

Quem diz o contrário é tolo


Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço

De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré

Houve até quem estendesse
A mão a mãe caridade
Para comprar um bilhete
De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas

Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia

Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeçam

No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota

Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Chupam-te o couro cab'ludo
Quem dera que a gente tenha


De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
Quem aqui vier morar

Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo


Os Índios da Meia-Praia
Zeca Afonso

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é,
Fui para onde a cantiga manda,
recuperar energias e por a leitura em dia.
Até já!

quarta-feira, junho 08, 2005  

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